domingo, 22 de março de 2009

O tio-avô

Um tio-avô falecido já lá vão muitos anos, quando algo de menos bom acontecia a algum familiar ou conhecido, repetia invariavelmente a mesma frase: “Eu já sabia…” Não que a notícia lhe tivesse chegado em primeira mão ou que antes de o interlocutor lhe contar a novidade ele já tivesse conhecimento, mas sim porque, queria dizer na dele, sempre calculara que as coisas se passariam da forma como acabavam por acontecer.
Ora, para alguém como eu, então um teenager inconsciente, isso não fazia sentido nenhum. Pior. Se sabia devia ter avisado e não ficar a gabar-se que possuía dotes de adivinho. Pior ainda. Só sabia das coisas más e era um perfeito nabo quando se tratava de adivinhar as boas. Nem sequer conseguia prever por quantos ganhava o Benfica na jornada seguinte. Sim, porque por esses anos o Benfica ganhava sempre e, geralmente, por muitos.
Claro que, com o passar dos anos, comecei a perceber melhor o funcionamento do sistema de previsões que o tio-avô usava para “adivinhar” o futuro e hoje dou comigo, muitas vezes a pensar e algumas a dizer, perante determinados acontecimentos, que “eu já sabia…” ou, como quase sempre acrescento, “pelo menos calculava…”.

2 comentários:

  1. ahahah
    há coisas que não adianta avisar antecipadamente, há que deixá-las acontecer ;)

    ResponderEliminar
  2. Outro cliché habitual nessas ocasiões era "pobre coitado/a"... Que é uma coisa que nunca entendi... porque para mim os coitados/as eram os que cá ficavam com a tristeza da perda e até alguns com cambalachos e dívidas para aguentar deixadas pelo falecido...

    ResponderEliminar