domingo, 7 de fevereiro de 2010

Os calhandros

Os mais recentes casos de divulgação de dados, que supostamente deviam permanecer na confidencialidade dos processos judiciais, suscita, mais uma vez, uma questão deveras curiosa. Parece que o crime – o ilícito, vá, sejamos condescendentes – não está naquilo que nos é revelado pela comunicação social ou outros meios ainda mais acessíveis ao cidadão comum, mas, surpresa das surpresas, na divulgação do facto. Ou seja, criminoso não é quem comete o acto mas quem o torna público!!!!
Tem o primeiro-ministro toda a razão quando diz que estamos a assistir a jornalismo de “buraco de fechadura”. É perfeitamente normal que assim seja. Equilibra na perfeição com os políticos que temos. Nomeadamente com o partido que está actualmente no poder. Convém não esquecer que é no seio do PS que foi – está? – a ser cozinhado um projecto de lei que coloca online o rendimento de cada português. O rendimento declarado, diga-se, porque o obtido por meios indeclaráveis, esse, continuaremos sem notícias dele.
Também, ao que consta, a Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais pretenderá institucionalizar a queixa e a denúncia como forma de combate à fraude e evasão fiscal. Assim uma espécie de bufaria institucional em que os cidadãos – bufos – se substituiriam ao Estado no seu dever de fiscalizar as actividades paralelas ou todos aqueles que tentam escapar aos impostos. Num e noutro caso tenho dificuldade em encontrar outro nome, que não “politica de fechadura”, para denominar este tipo de actuação. Mas, como é iniciativa do poder, deve ser coisa de superior interesse nacional.

6 comentários:

  1. É isso.

    Poupou-me o trabalho da escrita :)

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  2. Não se compreende o silêncio dos partidos face à gravidade institucional que a publicação dos despachos do procurador João Marques Vidal e juiz de Instrução António Costa Gomes depois das investigações conduzidas pelo inspector da polícia judiciária Teófilo Santiago, sobre o manifesto “indício” de crime de atentado ao estado de direito praticado pelo primeiro-ministro José Sócrates.
    Um dos fundamentos da Democracia – a liberdade de expressão - é posto em causa da forma mais torpe e descarada e, perante “indícios” tão claros, os partidos políticos balbuciam a medo palavras de circunstância como se de uma banalidade se tratasse.

    De três órgãos institucionais, a Polícia Judiciária, a Magistratura do Ministério Público e Juízes, elementos de carreira de há muitos anos, foram unânimes, com as provas obtidas em investigação, em declarar a existência de crime. O procurador geral da república, de nomeação politica e temporária, decide interromper o decurso normal da Justiça, uma vez que é uma natural obrigação da procuradoria geral da republica instaurar, sempre, mas sempre, um inquérito de averiguações desde que haja um mínimo de indícios criminais. Por incompetência, por compadrio politico ou por qualquer outro motivo tão aberrante quanto aqueles, o procurador geral da republica obstruiu de modo deliberado e inequívoco o prosseguimento da Justiça.

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  3. Belo! No tocante às escutas, o intuito é matar o mensageiro!... Não importa o que Sócrates fez ou disse, mas sim, castigar quem revelou a marosca!...
    Quanto à BUFARIA, não acabará o bufo na corda bamba?...
    Compadre Alentejano

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  4. Já li o ano 2007, quase o 2008 e escreves numa abordagem fantástica sobre o que pensas de tanta coisa que já ocorreu e ocorre neste país que me acolheu.

    Gostei e vou continuar a ficar (se não levar corrida) porque concordo que há tanta coisa encoberta e vista "pelo buraco da fechadura", não fossem eles partidários do "sim, senhor, não senhor, olhe vi isto, vi aquilo" e num compadrio vergonhoso e deveras preocupante.

    Já trabalhei imenso em prol deste país e numa área que necessita sempre "saber ouvir os dois lados" e jamais entrar em julgamento na praça pública, porque por vezes o que parece não é. Cabe aos mais jovens de lutarem por mudarem o rumo das coisas como eu lutei e muito mas nunca filiada em nenhum partido, mas inteira por uma "democracia onde pudesse falar e disfrutar da liberdade".
    Votaram? agora há que aguentar, porque até quando a justiça é célere e actua...votam neles na mesma. Ah pois mas são Independentes? Pois, pois... Afinal querem o quê?

    Força aí e parabéns por teu espaço.

    Um abraço

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  5. Agora, infelizmente são protegidos os ladrões, infractores, não cumpridores, etc.
    Podia dar exemplos d'alguns deles, mas não vale a pena, porque os nossos politicos são neste momento o melhor exemplo...!
    MFCC

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