quinta-feira, 21 de abril de 2011

Reduzir o salário do vizinho é bom. Reduzir o meu é mau.

Embora muitos falem do assunto como se tratando de uma afastada fatalidade, que apenas atingirá os outros e à qual escaparão incólumes, tentar adivinhar quais serão as medidas que a chamada troika irá propor tem constituído uma espécie de desporto nacional. Uma das que tem sido sugerida atá à exaustão, nomeadamente na comunicação social, é a redução de vencimento dos funcionários públicos. Basta dar uma rápida vista de olhos – a qualidade dos comentários não merece grande atenção e é bem reveladora da inteligência de quem os produz – pelos diversos fóruns e outros sítios da Internet onde se debatem estes assuntos para perceber que, a ser adoptada, esta seria uma decisão que reuniria a concordância – mais do que isso, o aplauso - de uma significativa margem de portugueses. Que, suponho, trabalham ou se dedicam a actividades no sector privado. 
Já escrevi o que penso, de uma forma geral e não apenas na função pública, acerca da redução de salários bem como das consequências desastrosas que isso provocaria na economia. Nomeadamente o aumento do desemprego. Mas, o que hoje me faz voltar a escrever acerca do tema, são as opiniões que acabo de ler nos mesmo sítios – talvez, até, escritas pelas mesmas pessoas - em reacção à proposta de redução de salários nas empresas privadas, que os representantes dos patrões entregaram aos fulanos do FMI e associados que por cá andam a vasculhar as nossas contas. De uma maneira geral a tónica é esta: “Aquilo que ontem era bom e devia ser aplicado de imediato aos outros, hoje já não presta e deve motivar uma revolta generalizada porque me toca a mim”. Talvez, há quem o sugira, constitua mesmo motivo para pegar em armas. Esclarecedor, portanto, quanto ao que verdadeiramente motiva muito boa gente. 
Infelizmente os portugueses são assim. Mesquinhos, egoístas, aldrabões, trafulhas, incapazes de pensar no bem-estar colectivo e preocupados apenas com o seu umbigo. Deve ser por isso que se preparam para reeleger aquele cujo nome não me apetece escrever. Um dos que, entre nós, melhor personifica o “ser” português.

3 comentários:

  1. Seram também por todos os motivos apresentados no último parágrafo que a troika cá está.

    Saudações.

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  2. Também fico boquiaberta quando leio os comentários a este tipo de notícias e dizes bem..."preocupados apenas com o seu umbigo".

    Concordo em absoluto contigo, mas é uma verdade que há funcionários públicos a mais em institutos(que pagam renda, água, luz etc) e afins que nada fazem e nada produzem, mas que poderiam ser colocados noutros serviços que têm falta de pessoal, lá isso há. Depois no governo e não só: secretário do secretário, do secretário, número de deputados, Juntas e Câmaras, hospitais, centros de saúde, TAP, EDP, SMAS etc. para não falar dos sindicatos... e não é por acaso que o pai meteu o filho, este o primo e por aí fora!
    Depois temos algo bastante grave: a falta de pontualidade e profissionalismo que existe em muitos funcionários públicos, caramba sabem que estão na iminência de perder o seu posto de trabalho e dão-se ao luxo de manter a mesma postura e em alguns sectores "gamarem" o que jamais deveriam gamar!
    No privado? serias logo posto no olho da rua e pagas os atrasos, excepto se houver flexibilidade. Baixas? revistas a pente fino e outras coisas e tais e foi assim desde que em 1986 passei a privado.
    Não desejo mal a ninguém e não tenho nada contra os funcionários públicos, mas há muito onde cortar sem precisar de ir aos ordenados destes ou até dos privados.

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  3. Existem funcionários públicos, e funcionários públicos. Não é correcto colocarem todos no mesmo saco, porque também os há bons.
    O que deveria ser feito - na minha pouco válida opinião- era serem remunerados mediante o bom serviço apresentado, tal como em grande parte das empresas privadas. Era bem mais justo, os serviços seriam bem melhores, e penso que deste modo tudo correria da melhor forma. Mas isso sou eu que digo! Não, não acho justo os cortes que fazem agora na função pública. Até parece que a culpa do país estar uma valente merda, é dos Senhores/as que atendem o povo na Seg. Social e outros postos públicos. Uma palhaçadas tão típica deste paraíso à beira mar plantado. Isto não é Democracia, não é nada!

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