terça-feira, 12 de julho de 2011

Patriotas, mas só relativamente.

O patriotismo evidenciado pelos portugueses desde que a Moody's considerou a divida lusa como lixo é deveras enternecedor. Comovente, até. A maioria de nós descobriu, assim de repente e sem que nada o fizesse prever, uma repentina paixão patriótica. Quase tão intensa como naquele longínquo Verão de 2004 em enfeitámos tudo e mais alguma coisa com bandeirinhas nacionais. Daquelas compradas nas lojas dos chineses.
Apesar de achar alguma piada às tentativas de chatear os gajos da Moody's – ao ponto de também ter acedido e feito refresh inúmeras vezes no site da organização - e admitindo que as agências de notação até podem ser uns chatos do caraças, insisto, tal como escrevi aqui, que a culpa é quase exclusivamente nossa. Ninguém nos obrigou a pedir dinheiro emprestado. Nem, ainda menos, a não regularizar atempadamente os nossos compromissos. Só em processos de acção executiva a aguardar cobrança admite-se que estarão mais de vinte mil milhões de euros. Sensivelmente um terço da chamada ajuda externa recentemente negociada. Coisa pouca, portanto.
Admito que, sem a quantidade astronómica de dinheiro que nas últimas décadas desaguou no país, a nossa vida não seria a mesma coisa. Provavelmente não teríamos auto-estradas onde passam quase tantos veículos quantos os passageiros que embarcam ou desembarcam no aeroporto de Beja. Não haveria um campo de futebol relvado em cada aldeia e o Tony Carreira, certamente, daria menos concertos. Não teria sido construído um parque habitacional suficiente para acomodar vinte cinco milhões de habitantes nem, quase de certeza, veríamos qualquer gaiato ranhoso com o pai desempregado e a mãe no rendimento mínimo a manusear um telemóvel de última geração. Não era, de facto, a mesma coisa. Mas, se calhar, não era pior.

4 comentários:

  1. também fico eternecido, ainda há poucos meses elegemos um Presidente da República que achava - achava!... - que não devíamos melindar os mercados e, mais recentemente, demos um cheque em branco a um governo de maioria que tem como receita a fome para acalmar o canibalismo dos mercados.
    Excelente reflexão e um abraço tão duradouro como a crise

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  2. Pois ... e o Porto não ganharia tantos campeonatos, o que era óptimo para os meus fígados!

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  3. Eu descobri que afinal o povo gosta da forma como o Estado tem sido gerido e está felicíssimo com a carga de impostos que paga. Há coisas fantásticas, não há?

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