Continuamos a não perceber o que nos está a acontecer. Parece que ainda não entendemos que estamos a viver uma tragédia e que ou mudamos radicalmente de rumo ou isto ainda vai piorar mais. Muito mais. Olhar para os cartazes que se vão vendo por esse país fora, assistir aos poucos debates que se vão realizando ou ler as propostas eleitorais dos candidatos a governar as autarquias não nos permite concluir outra coisa.
De facto, praticamente todas as propostas apresentadas ao eleitorado – ou melhor, aos trezentos e oito eleitorados – envolvem aumento da despesa pública. Gastar mais do nosso dinheiro, portanto. Construir coisas, sejam elas quais forem e que utilidade tenham, continua na vanguarda em matéria de prometimento. Segue-se - está muito em moda, diga-se – essa coisa do social. A ideia será apoiar os mais desfavorecidos, ao que garantem.
Ainda que uma ou outra ideia até possa aparentar um nível de coerência vagamente aceitável falta, quase sempre, um pequeno dado. Uma minudência, a bem dizer. Esquecem-se invariavelmente de nos esclarecer onde vão desencantar o dinheiro para assegurar a realização dessas propostas. Isto porque, para lá dos chavões habituais a envolver os automóveis ao serviço das presidências, nunca é feita qualquer referência a eventuais cortes na despesa que permitam enquadrar no orçamento autárquico o valor daquilo que se pretenderá gastar a mais.
Mais preocupante ainda é que, por norma, a estas intenções seguem-se mais umas quantas no sentido de reduzir o IMI, a participação municipal no IRS, a Derrama, as taxas municipais ou o preço dos bens e serviços fornecidos pelas autarquias. Quer isto dizer que os candidatos autárquicos conseguem fazer a quadratura do circulo. Ou não sabem do que estão a falar. Ou, mais provável, querem enganar-nos. A menos que achem que isto da crise, das dividas e da necessidade de ter as contas equilibradas é tudo conversa fiada e que as dividas não são para pagar, como dizia o outro. Os que chegarem ao poder com este pensamento e graças a este tipo de promessas pode ser que, mais cedo do que tarde, tenham uma surpresa...